Recolhido na minha Torrinha para recuperar-me de importante cirurgia no fêmur, que ainda tolhe a minha liberdade de locomoção, tenho estado aberto a muitos momentos tipo de lembrança e, por consequência, de saudade. E São Bernardo, claro, tem espaço garantido nesses momentos de recordação e, pois, de saudade. Aqui cheguei aos 28 anos de idade, recém formado em Direito, a convite de Lauro Gomes que, em 1951 elegeu-se prefeito de uma vila chamada São Bernardo, então com 40 mil habitantes. Assumi a função de advogado da Prefeitura, o único então nesse cargo, pois a cidade aprontava-se a fim de renascer para um importante período de progresso que perduraria até nossos dias. Recém formado em Direito fui nomeado por Lauro Gomes para uma prefeitura onde uns duzentos funcionários se equilibravam nos reduzidos e acanhados espaços em que se agitavam. A sede da Prefeitura (ou parte dela) estava instalada no andar de cima de um prédio na Rua Dr. Flaquer, esquina com a Marechal. Em reduzida sala ficava o gabinete do prefeito: numa das mesas, o prefeito; e em duas outras, na mesma sala, a mesa da secretária Rita Zincaglia e a minha, de advogado (era um só advogado, eu).  Nesse tempo saudoso cuidávamos da administração pública municipal juntamente com outros funcionários, entre os quais o Jayme Franchini comandando o setor financeiro da prefeitura, auxiliado entre outros pelo João Simonato. Este, saudoso hoje, quem sabe? pois dele não tenho noticia, embora amigo de minha estima, tendo ido residir em Santos onde se instalou com a família.  Meu amigo que ele foi, que ele passou a morar em Santos com a esposa e o filho.
Essas lembranças me vêm à mente no meu retiro de Torrinha, sarando de uma cirurgia no fêmur que reduz, por ora, assim espero, minha capacidade de locomoção, movimentando-me com ajuda de andador. Minha principal companhia, nesta fase de pouco que fazer, são os livros: fico lendo e, nas horas vagas rabiscando memórias e escrevendo estas crônicas para a nossa Folha de ABC. Advocacia é agora, só lembranças e muita saudade de tempos em que advogar era ter momentos de alegria e, claro, decepções também. Lembro-me de uma mulher que leu minha mão, eu ainda solteiro, logo depois de formado, dizendo-me que eu teria momentos de alegria nas demandas que iria ganhar, como advogado; assim como tristeza pelas causas que iria perder. Era uma conclusão que teria me deixado só boas lembranças, não fosse a "novidade" de meu apregoado insucesso profissional, como se alguém na vida nunca tivesse momentos de aborrecimento, qualquer que seja sua profissão.
E por falar em momento de bons pensamentos, lembro-me de um saudoso amigo: Giovanni Bruno. Tenho em mãos seu livro de memórias "Aos Nossos Momentos", com simpática e afetiva dedicatória, na qual dizia "pesso" perdão por este instante de emoção, no seu português ainda mal digerido, mas carregado de estima nessas singelas linhas. Ele era um italiano alegre, dono de um restaurante de sucesso, um guerreiro que navegou por difíceis oceanos em busca de seus sonhos. Não sei se ainda vive, mas sei que voltou para a Itália, seu berço natal e que ali estaria vivendo. No seu livro de memórias "Aos nossos momentos", narra episódios de sua vida e de sua família acentuando termos de lembranças, gratas recordações, com delicada  dedicatória a mim, no exemplar que me deu em junho de 1995. Encontrei-o muitas vezes em seu restaurante ("Sogno di Anarello") em São Paulo, onde ele servia pratos não da escolha do freguês, mas a dele próprio, nos quais colocava além da saborosa comida, o calor de sua amizade contagiada por sua esfuziante alegria. Seu restaurante ainda está lá na Rua Sogno di Anarello, mas sem sua alegre presença e o vazio da saudade.
Caríssimo Giovanni: sei que você não vai ler esta página de lembranças de seu amigo brasileiro. Onde quer que esteja, receba-as enleadas no calor de uma amizade e carregadas de saudade deste seu amigo brasileiro, meu querido Giová.