06 May 2024


Traquinagens do meu pai (final)

Publicado em DIVANIR BELLINGHAUSEN
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Quando ele mobiliou a casa, tudo muito simples, com o quarto de casal feito na sua fábrica de móveis. Comprou beliches para os quartos e para a garagem, mais tarde, quando meu irmão levava amigos que ficavam lá. Os colchões eram de palha, algumas informações nos dão como palha de trigo? Por volta dos anos 50, começaram a chegar os de espuma. Meu pai renovou todos, e.... O que fazer com os outros? Plim plim… a luzinha se acendeu. Amarrava-os um de cada vez, em fins de semana, atrás de seu carro, nós nos sentávamos sobre ele e ia nos puxando pela praia que era muito irregular devido a agua dos córregos que corriam para o mar. Os colchões iam se desfazendo e os bumbuns queimando na areia quando então, rolávamos pela praia abandonando o transporte. Assim aos poucos ele deu fim aos colchões. Mas como a brincadeira era boa, ele começou a levar para lá, tábuas que fazia na fábrica, e continuamos a esquiar sentados, pela praia. Ele com quatro câmaras das rodas velhas de carro, com as boias amarradas e com um tablado vazado de madeira por cima, fez uma jangada. Só podíamos colocar na água junto com ele, que colocou um forte mourão na areia e prendia a jangada com uma corda. Conforme a praia teve seu movimento aumentado, ele construiu outra casa em Itanhaém, no Cibratel I, pois então a estrada Pedro Taques e a Manoel da Nobrega ficaram prontas, facilitando a viagem que era feita pela praia de areia. Continuamos com os picarés, a caça aos caranguejos, atravessar o costão até a Praia do Sonho, descansar na Cama do Anchieta. Uma vez estávamos no terraço da casa e minha mãe falou: Olhem essa mulher passando do outro lado da rua. Está com um vestido igual ao meu (e um chapéu de palha na cabeça). Andava lentamente. Depois percebemos que era nosso pai.
Os carros na época eram grandes, importados, com um banco inteiro na frente onde iam, meu pai, meu irmão e minha mãe com a filha mais nova no colo. Atrás as três irmãs e umas duas amigas ou primas. O porta malas, muito grande lotado, inclusive com a máquina de costura portátil e a harmônica. Quando ele ia fechar a mala dizia: Puseram o piano? Sempre de bom humor.
Outra vez aqui em São Bernardo uma irmã tinha se vestido de freira e foi, com a amiga pedir ajuda aos vizinhos (que não a reconheceram), e dias depois ele também se vestiu e foi pedir...uma pinga... Rsrsss
Ele era assim. Todos os anos fazia viagens pelo Brasil com sua Veraneio com os amigos. Tenho escritos mais de 40 “causos” seus, verídicos ou não. Se algum amigo desse em cima de uma mulher, era o último convite. Ele pagava tudo (segundo um amigo me contou) e no final da viagem fazia a divisão das despesas. Cera vez um disse: Berto, onde estão as notas? Meu pai respondeu: Você não precisa pagar. E nunca mais o convidou para nada. Lembro muito do terraço grande da casa, onde os amigos passavam e subiam para um bate papo. Lá estavam o garrafão de cachaça e o de vinho caseiro ou o Sangue de Boi.
As pipas eram variadas. Na praia com duas folhas de papel de seda, mais fortes. Em junho já estavam prontos todos os balões em todos os formatos. Chegavam os fogos que ele ia comprar na Loja da China, em São Paulo. No Natal ele cortava uma grande árvore e com a família, a decorava. Ele se vestia de São Nicolau, colando o algodão com goma arábica no rosto, passava a fuligem de uma vela no rosto para dizer que entrou pela chaminé. Minha mãe tocava músicas natalinas ao piano. Na passagem do ano novo, à meia noite, saíamos para a calçada com objetos de metal na mão para batermos nos postes de ferro às 24 horas.
Se eu continuar relembrando encherei várias páginas. Durante tudo isso minha mãe sempre amorosa, nos acompanhava nos estudos, nos ensinava a tocar piano, junto com uma ajudante fazia nossos almoços e jantares variados, e lógico, meu pai também com a mão na faca e dando os palpites. Posso dizer que tive uma família e infância maravilhosa. Sempre o enxergo com suas camisas em tecido xadrez, seus lenços de seda no pescoço, seu chapéu...Magro, alto e seus brilhantes olhos azuis...
Enfim, boas lembranças de meu pai, filho de alemães, Alberto Eduardo Bellinghausen...
Um abraço, Didi

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