05 May 2024

Publicado em TITO COSTA
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TITO COSTA


A noiva no cemitério

 

Há uma lenda em Torrinha sobre um escravo de nome Candimba, trabalhando numa fazenda da Família Munhoz, próxima da Usina Três Saltos, um local de difícil acesso, abrindo-se num vale de mais de 120 metros de profundidade. É ai que, segundo dizem, em noites de luar, nas espumas da cachoeira aparece a figura da noiva raptada pelo escravo Candimba e por ele levada para as grutas desse vale profundo. Conta a lenda que a moça tinha 15 anos, apaixonaram-se ela e o escravo, disso resultando o rapto e a fuga para local quase inatingível, dada a sua profundeza, a mata cerrada e as paredes de pedra que o circundam. Ali passaram a viver dias e noites de felicidade dentro da gruta de pedras, a moça definhando de paixão e de saudade da casa paterna, para morrer em seguida, e o negro Candimba desaparecendo para nunca mais ser encontrado. E hoje os que passam pela região, à noite, entre montanhas e o vale, afirmam ver um vulto feminino, vestido de noiva, levitando suavemente em volta da cachoeira embalada pelo vento. A névoa formada pelas águas que caem e a bruma seca em determinados dias do ano mostram a noiva esvoaçante, dizem que em busca do seu amor proibido.

Acontece que, recentemente, um fanático cultivador de abelhas, apicultor conhecido na cidade, resolveu certa noite de lua procurar enxames no cemitério local onde, disseram-lhe, havia alguns com grande população de abelhas, inclusive no telhado da capela. Vestido a caráter, com macacão branco, chapéu com rede protetora, viseira, luvas e botas também brancas, portando ainda uma espécie de cajado, como se fosse um estandarte para a captura, penetrou no campo santo em busca de suas presas. Algumas pessoas que passavam pelo local ermo, altas horas da noite, viram o vulto branco como que saltitando entre os túmulos e não tiveram dúvida, em espalhar pelas esquinas: vimos a noiva do Candimba, toda de branco e que, certamente perdida de saudade, teria ido à procura do seu bem-amado, no cemitério. Enxergaram a noiva e juravam, tê-la visto quase em pessoa, tão próxima estava, o que despertou intensa curiosidade e os falatórios de praxe. Pouco durou a circulação do boato quando se ficou sabendo que Vandico, o apicultor, devidamente aparelhado com seu equipamento branco, pulava entre os túmulos e o telhado da capela do cemitério em busca dos preciosos favos de mel e de suas ativas operadoras. E assim, desfeito o equivoco, revelado o autor da façanha noturna, a noiva do Candimba teria retornado ao seu habitat no vale das sombras entre as pedras e a cachoeira para reaparecer de novo e sempre, em toda a sua leveza, nas noites claras de luar, envolta e embalada pelo sussurro dos ventos.

Tito Costa é advogado, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e ex- deputado federal constituinte de 1988. Email: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

Última modificação em Sexta, 21 Janeiro 2011 19:13
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