A tradicional Padaria do Grilo, localizada na rua Monte Casseros, no coração de Santo André, após 49 anos, encerrará as atividades. À frente do negócio desde 1977, estão Silas e Edésio. Silas, que antes trabalhava com produção de doces, se juntou ao cunhado Edésio, que já possuía uma panificadora em São Bernardo, e transformou a Padaria do Grilo no “point” da cidade. "Quando compramos era somente lanchonete. Depois convertemos em panificadora e lanchonete. Mantivemos o mesmo nome ‘Grilo’ e passamos a oferecer almoço, porções, salgados e pizzas", afirma Silas.

O local, que tem o nome de uma gíria da época da Jovem Guarda, é o ponto de encontro de grupos de amigos, dos mais tradicionais da cidade aos mais jovens, que param ali para tomar um cafézinho ou uma cerveja e jogar conversa fora, num delicioso happy hour. “Temos muitos prédios residenciais aqui perto. O fluxo de pessoas veio com uma somatória do nosso trabalho”, afirma Silas.

Antes da pandemia, Silas e Edésio já vinham planejando a aposentadoria. “Nossos filhos já estão criados e bem. Não os ensinamos a trabalharem na padaria. Ensinamos que têm que estudar e trabalhar em empresas. Isso aqui, para eles, não serve mais. Não os ensinamos a fazer isso. Isso é para quem tem uma faixa etária dos 50 aos 60 anos, que foi ensinado a trabalhar”, afirma Silas. O empresário comenta sobre a atual transformação digital que veio com a pandemia. “Hoje, os jovens têm celular e informatização. Eles entendem tudo. Se você tiver um filho que mexe com a parte de informatização e trabalhe com sistemas de vendas virtuais e você fique na administração, organização e compras, vai trabalhar muito bem. Não aprendi a fazer isso”, revela o empresário. São 44 anos à frente da Padaria do Grilo e Silas comenta que o negócio é familiar. “Nós mesmos criamos isso, atendendo o balcão, vindo para fora atender. Nós não aprendemos a digitalização”, afirma.

O empresário ainda comenta sobre os aplicativos de delivery, que cobram preços inviáveis para oferecer o serviço. “Os mais jovens conseguem trabalhar com essa ideia. Eu não dou conta disso. Depois de uma certa idade, se você toma uma rasteira, de repente você não levanta mais. Então, estas coisas foram minando a minha vontade de continuar”, confessa. Silas afirma que o sócio Edésio, até um mês atrás, queria manter a padaria. Porém, quando começou este ano, Silas afirmou ao sócio que no fim do ano iria parar com as atividades. “Se vender, tudo bem. Se não vender, nós paramos. Não foi por conta da pandemia. Com 71 anos, se eu for empreender, fico aqui mais 10, 15 anos. Será que o que eu fiz não é suficiente até agora?”, afirma.

Pelo estabelecimento passam famílias já na terceira geração.  Não há um andreense que não conheça a padaria do Grilo. “Conseguimos formar uma confraria de amigos. Isso vai me fazer muita falta. Só que eu não posso ficar lastreado a uma condição. Quem trabalha com isso é uma escravidão danada. Trabalhamos de segunda a domingo direto. Para folgar no sábado e no domingo, viro o sábado e domingo anterior. Se saio de férias, o Edésio fica e vice-versa”, conta.

Sobre a sucessão familiar na padaria, Silas comenta: “Algumas pessoas falam que bom seria se houvesse uma continuidade. No nosso caso, não. Criamos nossos filhos para eles terem a liberdade de optarem por aquilo que quisessem ser. Hoje, nossos filhos nos cobram para nós pararmos de trabalhar”, finaliza Silas.

 O local encerra as atividades no próximo dia 31 de dezembro, deixando muita saudade, lembranças e histórias para contar. Na quinta (23), haverá uma grande despedida onde os amigos, funcionários e frequentadores da padaria estarão reunidos na padaria.