02 May 2024

Publicado em DIVANIR BELLINGHAUSEN
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No mês que vem relembramos o chegar a esse mundo de minha mãe Odette Tavares Bellinghausen. Um pouquinho de sua caminhada por aqui.
Minha mãe, sendo filha única, nascida em Santos, em 31 de julho de 1915, era filha dos portugueses Assumpção Viegas e João Domingues Tavares. Menina ainda veio morar em Indianópolis, S.P., onde os pais tinham uma firma de importação. Com 12 anos, amante de livros, já havia lido toda a obra de Eça de Queiroz, escritor português não aconselhado para menores. Com os pais sempre em atividade, passava os dias estudando, tocando piano e devorando livros em português, francês e inglês. Com 13 anos tocou seu primeiro concerto com grande orquestra.
Vinham muito para São Bernardo pois meu avô era proprietário da Vila Tavares, depois Gonçalves. Quando ela tinha 16 anos vieram em definitivo para cá. Meu avô fundou o Jornal Imparcial em Santo André, onde ela colaborava com artigos e dava aulas de piano e pintura aqui na cidade. Conheceu meu pai Alberto Eduardo Bellinghausen, filho de alemães, industrial de móveis, com quem se casou em 29 de fevereiro de 1936. (Observaram o dia? Rsrs). Sempre envolvida em eventos culturais, acompanhava os filmes mudos ao piano, e com os amigos Eurico Marques ao violão, Odette Pasin, Aldo Armani e Florisa Coppini cantando. Com um grupo de amigos fundaram o Centro Cultural Humberto de Campos. Sempre ajudando os mais carentes fundou a Associação Beneficente Bartira em 1945. Presidida por ela por mais de 30 anos e contando com a participação das senhoras da cidade durante toda a existência. Para que as obras fossem realizadas, promovia shows anuais com a participação dos jovens da cidade tendo o coral que se apresentava com canções em português, inglês, francês, espanhol e italiano. Grandes empresários da cidade também faziam parte, como o tenor Armando Zóboli, o médico Eugenio Takeshita, Alcides Médici, Rossi e as cantoras Helena Tondi, Amelinha Riskallah, entre muitos mais. Nosso amigo Abib Riskallah, que partiu este ano aqui da terra, até hoje é lembrado como o mestre de cerimônia. Eles, sempre de smoking, as moças de traje soirée, e as crianças apresentando números infantis vestidos de acordo com a apresentação.
Em 1954, após campanhas para doações de livros para dar início à biblioteca, ela fez no Cine Anchieta o Show do Livro, movimento que atraiu em torno de 1.500 pessoas, como atestam as fotos de Beltran Ascencio, o nosso grande amigo fotógrafo, e cuja renda foi para aquisição de livros que estimulou então a cidade para essa obra. Ela tinha no corredor da casa várias estantes onde ia guardando os livros e já os fazendo circular entre amigos e seus alunos de piano. Ela ensinou-me a fazer o tombamento dos mesmos e convidei então minha amiga Maria de Lourdes Leite, a Malu para me ajudar. Mais tarde ela foi a primeira bibliotecária da cidade com uma carreira brilhante. Colaborou com a formação de várias bibliotecas de bairros da cidade, inclusive sugerindo os nomes delas, como a Guimarães Rosa e Malba Tahan.
Alguns dos shows realizados: Flores de Maio, Show Quarto Centenário, Show Pró Livro, Show das Mães (com o Rotary Clube) Show da Vitória (Lauro Gomes), Noite Paulista, Audições de piano e harmônica etc.
Depois de morarmos no casarão da Rua Carlo Del Prete, meus pais alugaram o imóvel para os mineiros Amauri e Mauro tendo então São Bernardo o primeiro ginásio para rapazes, uma vez que o Colégio São José só aceitava meninas. Minha mãe não gostou do nome: Colégio Dona Leonor Mendes de Barros. Disse aos irmãos que aquilo não tinha nada a ver com a cidade mãe. Eles depois fundaram a Escola de Contabilidade Cacique Tibiriçá (agora sim, pai de Bartira e sogro de João Ramalho) e ela foi a paraninfa da primeira turma de formandos. Com jovens amigos fundou em 1956 o Clube de Arte, apresentando o coral e a peça de teatro “O Fantasminha Pluft”. Depois a Asba, Associação de Belas Artes. Com outros amigos lutou para a instalação da Pinacoteca na cidade.
Fez várias exposições com seus quadros. Escreveu vária composições para piano tendo algumas sido impressas e cantadas por cantores da extinta Rádio Tupi. Escreveu o Ballet da Menina Pobre, dançado e encenado pelas alunas da Prof. Manon Freire. Foi trovadora e poetisa, tendo recebido alguns prêmios.
Recebeu vários títulos, como Cidadã São Bernardense, Dez mais Úteis da Cidade, Galardão em Cultura, Troféu Personalidade Artística, etc. Com cinco filhos, ensinou instrumentos musicais a todos, inclusive netos. Ninguém herdou o dom musical dela. Minha coluna é pequena para que eu cite toda a vida de minha mãe, uma mulher amorosa, bondosa, brincalhona, inteligente, simples, sempre se doando ao próximo. Foi uma mulher muito à frente de seu tempo.
Grande abraço, Didi

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