03 May 2024

Publicado em TITO COSTA
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No dia 22 de julho do corrente ano o grande sociólogo Florestan Fernandes teria completado 100 anos, centenário que foi celebrado por intelectuais brasileiros, especialmente pelos estudiosos de sua obra dedicada ao estudo do negro na sociedade brasileira. Eu o conheci na Câmara Federal, deputados constituintes, de 1988, ele e eu. De convívio afável, com a simplicidade das grandes personalidades, foi sempre atencioso comigo, assim como com tantas pessoas que ele conhecia e respeitava, dizendo-me certa vez que tinha respeito por mim, o que me fez feliz, vindo de quem vinha.
Não conheço sua obra, especialmente "A Integração do Negro na Sociedade de Classes" como foi e ainda é a nossa, especialmente no que refere à classe negra, objeto de seus estudos, principalmente. Artigo de Antonio Brasil Jr. de quem retiro estas notas (Folha de S. Paulo, 26/07/2020) destaca o papel por ele Florestan desempenhado pelo estudo do negro e do racismo na resistência à desigualdade brasileira, ainda e sempre existente, em que pesem estudos e até convivência dos brasileiros com eles.
Eu tive um colega negro na minha turma na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco em São Paulo, Olegário Borges com quem convivemos naturalmente, mas depois de formados ele foi morar em Campinas e nunca mais nos vimos. Outros dois colegas da mesma Turma de 1950 Calixto Antonio e Otto João Gustavo Betke, radicados aqui em  São Bernardo ambos também atuando na profissão de advogados e o Calixto nas aulas da nossa Faculdade de Direito, infelizmente já falecido.
Voltando ao Florestan Fernandes, nesta minha homenagem que lhe presto pelo centenário de seu nascimento (1920-1995), devo lamentar o registro de que ele foi perseguido pelo regime militar vigente no Brasil desde 1964 até 1985, assim como tantos outros notáveis que incomodavam a situação existente nesse período da nossa vida política.
Outro livro seu "A Integração" estuda a dinâmica da reversão de lealdades impostas à população negra que ascende socialmente ao processo que ele chama de acefalização ocorrido porque o negro que melhora de condição é a exceção que confirma a regra para respeitar o pacto de silêncio exigido pelo mito da democracia racial.
Destaco, ainda, do artigo de Antonio Brasil Jr. :"É na investigação sobre as relações entre brancos e negros em São Paulo que Florestan, por dentro do drama negro, descortina uma série de mecanismos sociais que, ao operar nas interações concretas dos agentes, naturaliza as bases da autocracia burguesa". Acrescentando que esses mecanismos permitem naturalizar as bases de uma ordem social do passado, de corte escravista e senhorial.  
Sobre a preferência por pessoas brancas no mercado de trabalho observa que a solidariedade entre brancos e negros sobretudo nas áreas de serviço social  lembra que "mesmo quando o negro ascendia (o que era raro) na escala social, mesmo assim os raros casos de ajuda mútua entre vizinhos e parentes se dissolviam na condição anômica da existência".
Destaco do artigo do Antonio Brasil Jr.: "A discussão sobre a autocracia burguesa implica olhar para as bases do poder na sociedade e não somente para as formas de exercício - formalmente democráticas  -  do poder político. Agora que a autocracia saiu novamente das sombras, levar a sério o programa de pesquisa de Florestan Fernandes se torna urgente". (cf. Folha de S. Paulo, ed. de 26/07/2020).
Fica aqui minha sincera homenagem à memória e ao trabalho desse intelectual que ilustra e honra a galeria de nossos pensadores, perseguido pelo regime militarista no Brasil, num período hoje pertencente à história, felizmente. Seu trabalho de reflexões sobre o papel do racismo e dos privilégios na sociedade brasileira está a exigir a atenção da nossa intelectualidade, pois agora mais do que nunca  a integração de esforços se impõe para viver e fazer  com que o tema do racismo entre brancos e  negros se imponha nestes  tempos de ascenção da autocracia.  

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