01 May 2024

Publicado em TITO COSTA
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Estamos em 1946. Estou matriculado  no primeiro ano do curso de bacharel na Faculdade de Direito da USP.  Aluno de parcos recursos, morando em pensão em São Paulo, deslumbrava-me com a situação de estudante de direito, no templo situado no Largo de São Francisco. Trabalhava então  como secretário na Faculdade de Engenharia Industrial, situada na Rua São Joaquim, bairro da Liberdade, na capital paulista. Por liberalidade do Padre Roberto Saboia de Medeiros, um jesuíta inquieto e realizador,  fundador dessa importante escola de engenharia, foi-me possível ir às aulas pela manhã, e à tarde prestar serviços nessa que viria ser uma das mais importantes escolas de engenharia industrial em nosso país.  Depois da Rua São Joaquim foi ela instalada em São Bernardo do Campo para cuja transferência tive eficiente participação.  Já contei nesta coluna essa história. Com as dificuldades naturais para um aluno pobre que precisava trabalhar para manter-se por conta própria,  encontrei na pessoa do Sr. Joaquim Inácio da Fonseca Saraiva importante apoio para a compra de livros indispensáveis à boa formação do futuro advogado.  Ele era o proprietário da Livraria Saraiva, situada no Largo do Ouvidor, a dois passos da Velha Academia de Direito.  Homem afável,  facilitava o crédito aos alunos necessitados  para aquisição de livros de direito, que eles pagavam como podiam e quando podiam.  Foi nessa condição de aluno pobre que eu o conheci, comprando livros em sua loja e pagando como me permitisse o meu salário de funcionário da FEI.  E  não havia limite para o crédito desde que o devedor fosse pessoa séria e responsável. Guardei, assim, do velho Saraiva uma lembrança de gratidão que ora relembro em face de notícias na imprensa  sobre as Livrarias Saraiva, agora em estado de dificuldades com suas 34 lojas ameaçadas de despejo. O nome  de Joaquim Inácio da Fonseca Saraiva figura nas notícias em  que o  complexo Saraiva  aparece como devedora de R$ 674 milhões de reais com a necessidade de uma gigantesca ginástica perante credores e poder judiciário.  E pensar que Joaquim Inácio da Fonseca Saraiva, imigrante português, proprietário de um sebo no Largo do Ouvidor, amigo e estimulador de estudantes de direito na vizinha Faculdade do Largo de São Francisco,  também, por certo, partícipe do império em que se transformou sua velha Livraria, talvez vivo não permitisse  que tal ocaso viesse a abater-se sobre um negócio ao qual se dedicara de corpo e alma. A velha Saraiva & Cia. do Largo do Ouvidor, jamais poderia imaginar um crescimento tão grande, em vários estados além de SP e a ameaça de um final melancólico para a memória de um empreendimento que tão bons serviços prestara,  ao longo dos tempos, à cultura brasileira.

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