04 May 2024


A herança que meu pai nos deixou... (IV)

Publicado em DIVANIR BELLINGHAUSEN
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Aí, começava a tocar a campainha, e os amigos e vizinhos iam chegando. Sempre tínhamos uns três pastéis recheados com algodão, para pegar um convidado.
As festas durante o ano eram comemoradas reunindo toda a família.
No mês do Natal, era montada a árvore, a maior que ele encontrava, com bolas, festões, nozes, maçãs e chocolates (que perfume!). A casa toda decorada com motivos natalinos. O presépio, com lagos feitos com latinhas de goiabada, vazias e cheias de água e musgos, que íamos buscar na mata. Na véspera, após alguns aperitivos entremeados com a ceia que era servida cedo, pois as crianças não aguentavam esperar pela meia noite, ele ia vestir-se de Pai Noel. Nós os filhos mais velhos que já sabíamos que ele era o Bom Velhinho, o ajudávamos a colocar a fantasia. Naquele tempo, não havia barbas postiças prontas, assim, o algodão era colado na própria pele. Para a maquiagem, queimávamos rolhas, para esfumaçar o rosto como se o tivesse sujado com o carvão da chaminé. Era o momento em que mais nos divertíamos. Minha mãe ao piano fazia com que a entrada fosse triunfal!
O almoço do dia 25 era bem brasileiro. Leitão assado crocante, tutu de feijão com linguiça e torresmos, arroz e couve à mineira.
O Natal e o Ano Novo eram comemorados com muita música, minha mãe tocando enquanto os presentes cantavam e dançavam. Na passagem para o ano que estava chegando explodiam o champagne e os fogos de artifício. Quando o sino da igreja batia as doze badaladas, íamos para a rua, batendo com martelos nos postes de ferro, fazendo sons como sinos, para receber o Novo Ano.
Na véspera da Páscoa, íamos pela mata com sacolas, pegar flores da quaresma. Fazíamos verdadeiras tocas de coelhos. Na madrugada seguinte, íamos espiar se o coelho já havia chegado: marzipãs em formato de frutas e animais, ovos enormes de chocolate, e os ovos de galinha, cozidos, tingidos e pintados por nossos pais.
Nas festas juninas, com meu irmão nascido no dia de S. João, começávamos a fazer os balões em maio: formato de cruz mexerica, charuto, bandeira brasileira, etc. Fazíamos mais de 50. Chegava junho. Chegavam os engradados da “Casa da China” de S. Paulo. Era um mês de festa, com fogueiras, minha mãe na sanfona, quadrilhas e todos os quitutes relacionados com o evento. Meu pai foi um grande fogueteiro!
Nossos aniversários eram comemorados com festas e bailes, onde os jovens encontravam seus pares com a ajuda dos “cotions”. Passávamos semanas preparando com a mãe nos ajudando a encontrar os “temas”. Depois preparávamos os comes e bebes. Tudo era feito em casa. O papai então ficava preocupado com a turma que invadia a casa, todos amigos, mas... Jovens! Ele tinha os olhos meio caídos. Quando chegava meia-noite, ele cortava dois palitos de fósforo pela metade, e os colocava nas pálpebras abrindo bem os olhos. Pegava um relógio grande no aparador, adiantava-o umas duas horas, e andava pela sala em meio aos convidados, duro como uma estátua, como se dissesse:
-Olha à hora! (Continua)

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