Na parte maior do viveiro, ficavam as aves maiores, nhambus, mutuns, araras, tucanos, pica-paus, saracuras, maritacas, pombinhas... e todas as aves que ele encontrava em seu caminho. Onde existem aves existem grãos e consequentemente os ratos. Quando meu pai começava a encontrar os buracos no solo, nos convocava com paus e vassouras, nos colocava ao lado das tocas e com uma mangueira, enchia um dos buracos com água. Essas tocas tinham comunicação sob a terra. Quando os bichinhos fugiam da inundação, fazíamos a maior farra deixando-os atordoados com nossas armas, pegando-os pelos rabos e jogando-os em um balde com água. Cabia a meu pai depois eliminá-los. Para nós, era uma diversão. Hoje, todos nós atacamos o bichinho, se por acaso estiverem em nosso caminho.
Costumava pegar uma vara de bambu, e com suas mãos fazia uma escada para nós subirmos o mais alto que ele alcançava, ai, prendíamos a vara com os joelhos, abríamos os braços, e nos sentíamos os maiores ginastas.
Em 1960, construiu uma nova casa na praia de Itanhaém. Ensinou-nos a andar pelas pedras, atravessando o costão, a pegar os siris com as mãos, a comer as ostras diretamente das pedras. Para isso, levávamos martelos, faca, limões e vinho branco, passando a garrafa de boca em boca.
Em nossa cidade, eram famosas as “Histórias do Alberto”, contos sobre as viagens, pescarias e caçadas que ele fazia com os amigos. Com a família, ia geralmente para a praia, pois era uma mão de obra, com o número de filhos e a nossa diferença de idade viajar e ficar em hotéis. Quando minha mãe carregava o carro para ir para a praia, levava até a máquina de costura portátil e a harmônica. Ele então dizia:
- Falta o piano!
Gostava muito de cozinhar. Foi um mestre cuca excelente! Passou esse prazer para o filho e filhas. Nas sextas feiras era dia de fazer pastéis. Ele e mamãe faziam a massa. Todos os filhos ajudavam nos recheios: queijo, carne, camarão, palmito, frango, goiabada, banana. Dividíamos-nos, recheando, cortando, fritando e comendo. Acompanhados no início por uma caipirinha e depois por cerveja ou vinho. Aí, começava a tocar a campainha, e os amigos e vizinhos iam chegando. Sempre tínhamos uns três pastéis recheados com algodão, para pegar um convidado.
As festas durante o ano eram comemoradas reunindo toda a família.
No mês do Natal, era montada a árvore, a maior que ele encontrava, com bolas, festões, nozes, maçãs e chocolates (que perfume!). A casa toda decorada com motivos natalinos. O presépio, com lagos feitos com latinhas de goiabada, vazias e cheias de água e musgos, que íamos buscar na mata. Na véspera, após alguns aperitivos entremeados com a ceia que era servida cedo, pois as crianças não aguentavam esperar pela meia noite, ele ia vestir-se de Pai Noel. Nós os filhos mais velhos que já sabíamos que ele era o Bom Velhinho, o ajudávamos a colocar a fantasia. Naquele tempo, não havia barbas postiças prontas, assim, o algodão era colado na própria pele. Para a maquiagem, queimávamos rolhas, para esfumaçar o rosto como se o tivesse sujado com o carvão da chaminé. Era o momento em que mais nos divertíamos. Minha mãe ao piano fazia com que a entrada fosse triunfal!
O almoço do dia 25 era bem brasileiro. Leitão assado crocante, tutu de feijão com linguiça e torresmos, arroz e couve à mineira.
O Natal e o Ano Novo eram comemorados com muita música, minha mãe tocando enquanto os presentes cantavam e dançavam. Na passagem para o ano que estava chegando explodiam o champagne e os fogos de artifício. Quando o sino da igreja batia as doze badaladas, íamos para a rua, batendo com martelos nos postes de ferro, fazendo sons como sinos, para receber o Novo Ano.
Um abraço, Didi. (Continua)
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