19 Apr 2024

Publicado em Editorial
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‘Penso, logo existo’ (em latim Cogito, ergo sum) é uma frase do filósofo francês René Descartes. A frase original foi escrita em francês (Je pense, donc je suis) e está no livro Discurso do Método, de 1637. Descartes é considerado o pai da filosofia e da matemática moderna e precursor do idealismo. O mundo atual tem pouco a ver com o do filósofo. O que se pode dizer atualmente é "selfio, logo sou".
‘Selfie’ é uma palavra em inglês, um neologismo com origem no termo self-portrait, que significa autorretrato, e é uma foto tirada e compartilhada na internet. E isso virou hábito que é uma verdadeira febre, já alguns anos e que, infelizmente, ainda está longe de virar ‘demodé’. As pessoas tiram “selfies”, de frente ao espelho, no elevador, na academia, no carro, enfim, em todo e qualquer lugar, para, logo em seguida, postarem nas redes sociais e inundar os feeds com fotos tiradas por elas mesmas em que aparecem sozinhas. Os ‘autorretratos’ são tirados e publicados, de anônimos às celebridades, de políticos internacionais até o Papa.
A palavra em si não é nova e a ideia de tirar o próprio autorretrato, muito menos: as pessoas tiram selfies desde antes da chegada da câmera digital, reproduzindo uma expressão artística histórica, afinal fotógrafos e pintores os produzem há séculos. O primeiro selfie da história é atribuído ao fotógrafo Robert Cornelius, que em 1839 tirou uma foto de si próprio. E de acordo com o Oxford Dictionary, essas imagens, mesmo que tiradas com um acionador a distância, também são consideradas selfies, pois, foram reveladas e divulgadas.
Mas, será que essa moda do selfie serve para entender melhor o sentido da vida de hoje, com suas contradições, sofrimentos e glórias?
A atual sociedade é a da imagem, que olha mais para o corpo, para a saúde, para o presente, para o imediato, para o tangível, do que para o abstrato. As selfies podem ser consideradas como um ato de extremo narcisismo e quem as posta, já deve ter se questionado sobre as motivações de encher a timeline de redes sociais com fotos de si mesmo.
Também se deve levar em conta que as plataformas digitais, como Facebook, Twitter e Instagram alimentam uma tendência à autopromoção. Afinal, as pessoas gostam mesmo de se exibir e os selfies apenas refletem isso, ou as câmeras frontais dos smartphones e o Instagram acabaram despertando esse lado exibicionista? Numa sociedade descartável, todo mundo acaba buscando aprovação, aceitação e, isso, no vazio mundo virtual pode ser mensurado pelo número de visualizações, likes, curtidas, compartilhamentos e comentários. E isso, acaba se tornando mais um problema. O indivíduo acaba dependendo, mesmo que sem perceber, exclusivamente da aprovação dos outros para se sentir bem consigo mesmo, o que acaba desencadeando distúrbios de autoestima que irão se manifestar nos relacionamentos e comportamento do mundo ‘offline’, ou seja, do mundo real.
Portanto, se de um lado o hábito de postar fotos de si mesmo é um exagero que pode impactar a personalidade dos indivíduos e torná-los mais egocêntricos, individualistas e intolerantes. De outro, não se pode negar que os selfies são um sintoma de que a imagem tem ganhado espaço frente ao texto na comunicação. Afinal, será mesmo que “uma imagem vale mais do que mil palavras”?

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