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Ícone da Art Nouveau, Alphonse Mucha, ganha mostra na Fiesp

Publicado em Cultura & Lazer
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Sucesso de público e crítica em sua turnê por Ásia, Estados Unidos e Europa, a exposição Alphonse Mucha: o legado da Art Nouveau chega a São Paulo, homenageando o ícone máximo desse movimento. Nascido em Ivancice, atual República Tcheca, Alphonse Mucha (1860-1939) teve uma carreira de muitas façanhas. Pioneiro na arte publicitária, consagrou na Paris da Belle Époque um estilo marcado pela sutileza e pelo perfeccionismo que se tornaria símbolo da era de ouro da cultura francesa. Hoje, passados 80 anos de sua morte, continua a influenciar artistas no mundo todo e mantém sua herança viva em ilustrações contemporâneas, como observada no universo dos HQs e dos Mangás.

Em cartaz de 18 de setembro a 15 de dezembro, no Centro Cultural Fiesp (Avenida Paulista, 1313), com entrada gratuita, a mostra reunirá a maior coletânea do artista já exibida no Brasil. Ao longo de quatro ambientes, mais de 100 obras cedidas pela Fundação Mucha desvendarão o talento múltiplo e o legado do expoente da Art Nouveau. A curadora da mostra, Tomoko Sato, vai conduzir uma visita guiada à exposição, aberta ao público, no dia 18 de setembro, às 19h30.

A primeira seção, intitulada Mulheres: Ícones & Musas, reúne o ponto alto de sua trajetória publicitária. Ainda no final do século XIX, Mucha inovou ao fazer das propagandas que ilustrava verdadeiras obras de vanguarda. Seus cartazes, que chamavam a atenção pelo preciosismo dedicado a cada traço e pela aura quase divina concedida à imagem da mulher, transformaram as ruas parisienses em uma galeria a céu aberto. A popularidade de seus desenhos se tornou tamanha que, não raramente, transeuntes recortavam os anúncios de Mucha para emoldurá-los em casa. Entre as obras que retratam essa fase do artista serão exibidos pôsteres dos memoráveis espetáculos de Sarah Bernhardt no Teatro Renaissance, anúncios de marcas de cerveja, cigarros, lança-perfumes, e outras dezenas de artigos igualmente referendados pelo toque de Mucha – como caixas de biscoito, embalagens de perfume e capas de livro.

"Mucha queria usar a arte para mostrar o belo. Ele acreditava que a beleza deixava as pessoas mais felizes e que, ao potencializar a sua difusão por meio da publicidade, contribuía para construir uma sociedade melhor", é o que conta a curadora da mostra, Tomoko Sato.

Ela explica que essa incansável busca pela beleza despertou outra obsessão no artista. Protagonista suprema de sua obra, a figura feminina significava, para Mucha, a melhor definição do sublime. Representadas como uma versão moderna da mitologia grega, as mulheres de Mucha transmitem a ambiguidade entre o divino e o humano.

Se as linhas curvas que emanam de seus cabelos e figurinos podem levar o espectador à uma posição de quase reverência a essas figuras semi-deusas, um olhar atento às suas expressões, que passam da melancolia ao êxtase, o coloca novamente diante de mulheres comuns.

A relação com Sarah Bernhardt

Nada simbolizou melhor essa natureza do artista que a parceria com a atriz Sarah Bernhardt. Iniciada quase que acidentalmente, no período de comemorações do Natal de 1894 – quando Sarah, à procura de um ilustrador para divulgar o seu novo espetáculo, Gismonda, não encontrou mais ninguém disponível além de Mucha –a relação prolífica entre essas duas personalidades da Belle Époque impulsionou a carreira de ambos. Da parte do artista, foi graças a ela que ganhou fama nas diferentes camadas da sociedade parisiense. Sarah Bernhardt, por sua vez, foi eternizada pelos traços de Mucha e se consolidou como o símbolo feminino de sua época.

Iniciada quase que acidentalmente, no período de comemorações do Natal de 1894 – quando Sarah, à procura de um ilustrador para divulgar o seu novo espetáculo, Gismonda, não encontrou mais ninguém disponível além de Mucha –a relação prolífica entre essas duas personalidades da Belle Époque impulsionou a carreira de ambos. Da parte do artista, foi graças a ela que ganhou fama nas diferentes camadas da sociedade parisiense. Sarah Bernhardt, por sua vez, foi eternizada pelos traços de Mucha e se consolidou como o símbolo feminino de sua época.

"Sarah, que, além de atriz, foi escultora, encontrou em Mucha alguém que compartilhava os mesmos ideais artísticos. Ela tinha uma ideia particular de como os artistas deveriam se apresentar no palco e Mucha conseguiu capturar esse espírito. Com isso, passou a não apenas produzir os seus pôsteres, como se tornou o diretor artístico de suas peças", conta Sato, que acrescenta que o contato com a atriz também ajudou Mucha a desenvolver a sua obra.

"Para ele, foi um privilégio poder observar por tanto tempo as performances magníficas de Sarah nos palcos. Assim como a sua elegância, os seus movimentos, o jeito de se expressar, os seus gestos, tudo isso o inspirou enormemente e, logo, esse tipo de inspiração se tornaria visível em seus cartazes". A mostra reunirá as obras mais marcantes frutos dessa parceria, além de cartazes para as peças de Sarah, artigos confeccionados por Mucha e que compunham o figurino da atriz.

Exaltação à origem eslava

Embora a publicidade tenha não apenas livrado Mucha dos problemas financeiros, como ajudado a desenvolver o seu estilo e a ganhar fama internacional, o artista tinha como princípio a recusa da arte unicamente para fins comerciais. Para ele, a arte deveria transmitir uma mensagem espiritual e, por isso, tentou, a partir de sua obra, inspirar pessoas para uma ideia mais ampla. "Ele foi um dos primeiros artistas gráficos, em todos os tempos, a pensar conscientemente sobre estratégias de marketing para a publicidade", ressalta a curadora.

Os núcleos O Estilo Mucha - Uma Linguagem Visual e Beleza – O Poder da Inspiração revelam um pouco das mensagens ocultas em sua obra. Criado em uma nação que lutava pela independência – na época, a República Tcheca vivia sob o domínio do Império Austro-Húngaro –, o artista, desde jovem, cultivou o desejo da libertação do povo eslavo. Analisando os seus desenhos, é possível observar a presença constante de elementos dessa cultura, como figurinos e artigos decorativos do folclore eslavo, formas geométricas, curvas, adereços e a quase ausência de profundidade que remetem à arte bizantina. Era evidente a intensão do artista em aproveitar a reputação conquistada no então centro cultural do mundo para divulgar a força da civilização eslava.

Essas gravuras são também um ensaio daquilo que geraria a obra-prima de Mucha: A Epopeia Eslava, série de 20 quadros gigantes produzida ao longo de quase duas décadas e que representam o ponto máximo dessa missão. Atualmente essas obras são muito frágeis para viajar, mas serão exibidas por meio de uma instalação digital na exposição em São Paulo. Instaladas em um palácio localizado próximo à cidade natal do artista, essas obras não integram o catálogo da exposição.

"Como artista, Mucha acreditava que a sua missão era comunicar e inspirar ideias para o público geral. Ele queria mostrar que mesmo uma pequena minoria étnica poderia ser reparada sem sentir-se ameaçada. E que todos deveriam respeitar as diferenças", afirma Sato.

A Art Nouveau

Entre as muitas manifestações artísticas que emergiram na Europa na virada para o século XX, a Art Nouveau se destacou por ser, na opinião de Sato, muito mais um fenômeno que um movimento sólido. O nome que hoje remete a obras que romperam com o padrão decorativo clássico veio de uma famosa galeria parisiense. Fundada em 1895 pelo negociador de arte alemão Siegfried Bing, a Maison de l'Art Nouveau comercializava quadros, móveis e acessórios diversos que atraíam o público por configurações que, ao resgatar estilos de correntes orientais, como o japonismo e o arabesco, popularizaram uma nova forma de expressão no Ocidente. Seu catálogo continha artigos assinados por nomes como Louis Comfort Tiffany e Henri Toulouse-Lautrec e que se tornaram moda naquela Paris do futuro.

Mucha, no entanto, nunca fez parte do acervo de Bing. Sato conta que, mesmo sem jamais ter exibido suas obras nas vitrines da Maison de l'Art Nouveau, ele foi logo associado aos artistas daquela galeria pela semelhança de estilos. Porém, a repercussão obtida com a publicidade e a identificação do público com os seus traços acabaram consagrando Mucha como o nome mais influente dessa corrente.

"De todos os novos estilos criados nesse período, o de Mucha foi, sem dúvida, aquele que mais influenciou as gerações seguintes. O Estilo Mucha se tornou uma marca e o colocou como o principal nome da Art Nouveau", ressalta Sato.

Legado nos dias de hoje

O Estilo Mucha atravessou décadas. Nos anos 1960, ele foi recuperado pela geração beat e ganhou força no movimento psicodélico, sendo mais claramente observado nos pôsteres de rock de David Byrd e Stanley Mouse. Mais tarde, nos anos 1980 e 1990, os cartunistas Joe Quesada e Barry Windsor-Smith levaram as curvas do mestre da Art Nouveau para produções de HQs da Marvel e da Valiant Comics.

Mas, a influência de Mucha fica mesmo evidente nos Mangás japoneses e nos Manhwas sul-coreanos. Entusiasta do japonismo – movimento que, no final do século XIX, trouxe à pintura europeia diversos elementos da arte oriental clássica, como a distorção da perspectiva e o uso de contornos fortes e curvas suaves, que ficam nítidas nas impressões ukiyo-e japonesas –, Mucha devolve agora ao oriente a fonte de inspiração que alimentou a sua obra.

A seção O Legado do Estilo Mucha reunirá alguns dos nomes representativos dessa influência. Do Japão, destaques para Nanase Ohkawa, Mokona, Tsubaki Nekoi e Satsuki Igarashi, fundadoras do grupo CLAMP e autoras de títulos conhecidos mundialmente, como Cardcaptor Sakura e as Guerreiras Mágicas de Rayearth. Da Coreia do Sul, a mostra traz desenhos de Ko Yasung, ilustrador das HQs Stigmata e The Innocent; Rhim Ju-yeon, conhecido pelos títulos President Dad e Ciel: The Last Autumn Story, e de outros ilustradores contemporâneos.

Sucesso mundial

As obras da exposição Alphonse Mucha: o legado da Art Nouveau pertencem à Fundação Mucha, administrada pelos herdeiros do artista e localizada em Praga, na República Tcheca. Ao longo dos últimos anos, essas obras foram temas de mais de 40 exibições pelo mundo, atraindo mais de 4 milhões de visitantes.

Em 2018, sete cidades receberam a retrospectiva, incluindo Copenhague, Nova Iorque, Madrid e Paris. Na capital francesa, foi registrado o recorde de público em toda a sua história: mais de 340 mil pessoas foram ao Museu de Luxemburgo contemplar as obras de Mucha. A mostra também tem colhido sucesso da crítica por onde passa.

Última modificação em Terça, 10 Setembro 2019 09:05
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