20 Apr 2024


Aracy Guimarães Rosa –O Anjo de Hamburgo

Publicado em Luiz José M. Salata
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Aracy Moeibus de Carvalho Guimarães Rosa nasceu aos cinco de dezembro de1908, em Rio Negro PR, filha de pai português e mãe alemã. Ainda criança foi morar com a família em São Paulo. Em 1930, Aracy casou-se com o alemão Johann Eduard Ludwig Tess, com quem teve o filho Eduardo Carvalho Tess. Com o filho mudaram-se para Hamburgo, na Alemanha, buscando melhores dias pois aventurou-se no país com a qualificação de dominar cinco línguas, e com o idioma alemão pretendia seguir alguma carreira. Assim, como poliglota foi prestar serviços no Consulado do Brasil, em Hamburgo, com o Cônsul Souza Ribeiro. Foram tempos difíceis pois era época da Segunda Guerra Mundial, quando a Alemanha liderava o Eixo, juntamente com a Itália e o Japão, contra os Aliados: Inglaterra, França, dentre outros, inclusive a Rússia. A Alemanha passou a perseguir os judeus de maneira violenta e praticando perseguição implacável através de intensas buscas pelos soldados. Era impossível atravessar as fronteiras para fora da Alemanha sem os passaportes e outros documentos que possibilitaram escapar aos que portavam os passaportes. Desde os primeiros tempos trabalhando no Consulado, Aracy ficou angustiada em ver e constatar a devassa na vida dos judeus para maltratá-los, com torturas e até matá-los, como extermínio deles que era o  propósito diabólico dos  nazistas, para segundo Hitler formar um  país com raça pura. Aracy então engendrou um plano para que, mediante a sua iniciativa quando dos despachos das correspondências com o Cônsul, em especial de liberações de passaportes e outros documentos pertinentes, os quais se os portadores fossem judeus, os ditos documentos deveriam obrigatoriamente constar com uma tarja com a letra J, justamente para que os alemães desviassem dos judeus, quando então impediriam qualquer forma de passagem pelas fronteiras. E ainda, consegui falsos atestados de residência para confirmar o seu plano humanitário, evitando assim as perseguições. Os passaportes eram deixados em meio à papelada para o Cônsul proceder exames e assinaturas, só que, de tão entediado com a burocracia em conferi-los, assinava-os sem ler. Com essas atitudes a  vida de Aracy correu riscos, pelo fato do plano ter dado certo conforme o seu planejamento, poderia ser descoberta e sofrer sérias consequências dos alemães, e mesmo do Brasil, pois Getúlio Vargas já tinha determinado para que o Ministério das Relações Exteriores não liberasse aos judeus através dos consulados. O Vice-Cônsul era justamente João Guimarães Rosa que assumiu nas férias do Cônsul titular, quando o plano de Aracy liberou muitos passaportes. Então, Aracy conseguiu com essa iniciativa a salvaguarda de centenas de famílias judias salvando-as do extermínio.  Nesse tempo, já sentimentalmente juntos e com a pretensão de irem para o México deixando Hamburgo, tiveram que permanecer por um mês de quarentena à disposição dos alemães que investigavam as liberações do Consulado de Hamburgo. Liberados, com o filho de Aracy foram para a cidade do México, e lá se casaram, pois eram desquitados e no Brasil não poderiam se unir por casamento civil. De volta  ao Brasil, Guimarães Rosa escreveu anotável obra – Grande Sertão, Veredas, a qual sempre falava que a ela não tinha dedicado o livro, mas sim dado mesmo. Grandes Sertões são as terras mineiras, e Veredas, justamente a definição de atalhos e caminhos difíceis. Aracy faleceu em São Paulo, aos 28 de fevereiro de 2011, aos cento e três anos, tendo seu nome lançado no Jardim dos Justos no Museu do Holocausto, em Jerusalém. Relembrando o filho de Aracy, Eduardo de Carvalho Tess, que permaneceu na Alemanha dos quatro aos doze anos e, ao retornar, foi alfabetizado em português e continuou os estudos no Colégio Rio Branco, sempre demonstrou que saiu aos olhos da mãe pela inteligência e dedicação. Ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, bacharelando-se foi advogar, fundando escritório de advocacia tornando-se brilhante advogado, foi Conselheiro Estadual da Seccional da OAB, Conselheiro Federal da OAB, Juiz do Tribunal Regional Eleitoral, foi Presidente do Instituto dos Advogados de São Paulo, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros,  ainda ensinou Direito Civil na PUC, além de ter ocupado o Ministério do Trabalho e Previdência Social. Ministrou gentileza e ética à trajetória profissional, sendo exímio observador,  dosava as palavras  e o momento certo de usá-las. Assim, ficam aqui as homenagens à heroína Aracy Guimarães Rosa pelos excepcionais trabalhos humanitários prestados, e também a Eduardo Carvalho Tess, uma das mais notáveis figuras da advocacia brasileira. 

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