A viagem ao Amazonas
A única vez que o Alberto viajou de avião, foi convidado pelo Vertamati, que era piloto fazendo a rota dos estados do Brasil. Quando chegaram a Manaus, se hospedaram em um hotel, onde os pilotos ficavam reunidos. O Berto foi apresentado como piloto. Muito conversador, ficava no papo com os outros hospedes. Perguntaram-lhe se já tinha tido algum problema durante os vôos. Ele então, muito sério, saiu-se com esta:
- Não... nunca tive... só uma vez, que o avião teve uma pane e caiu. Eu estava sozinho, e consegui saltar de paraquedas. O problema é que ele ficou preso em umas árvores. Demorou uma semana para me encontrarem. Mas... tudo bem. Foi só um pequeno susto.
Não é que o pessoal acreditou?
 
O relógio da igreja
Do terraço da casa do Alberto, via-se a alta torre da igreja com seu enorme relógio.
D. Hilda, sogra da Suza, nos contou esta.
Numa época em que o Alberto estava adoentado, ele ficava sentado na varanda, e quando a Hilda, que morava em frente o via, ia dar um dedo de prosa com ele.
Um dia, depois de baterem um papo, ele disse:
-Fico aqui sentado horas, e o tempo não passa.
Ela ficou penalizada.
Quando nos contou, é que ficou sabendo que o relógio estava parado já há mais de uma semana.
 
Sindicato
Logo que o Alberto se “aposentou”, certo dia nos disse:
-Preciso ir ao Sindicato.
Daí a pouco, novamente:
-Está na hora de eu ir assinar o ponto no sindicato.
Ficamos intrigados, pois ele não nos deu mais explicações.
Depois ficamos sabendo. Era o “sindicato dos aposentados”
Sede: Barbearia do Sr. Armando, onde se reuniam todas as manhãs e tardes os amigos do “dolce far niente”.
 
Time de futebol
Um dia em que a amiga Vani estava lá em casa, O Berto veio com esta:
- Estamos combinando lá na barbearia formar um time de futebol.
Ficamos surpresas, mas antes de perguntarmos, ele continuou:
- O Miro tem que jogar de braço dado com o Arlindo.
Vão as explicações: o primeiro havia amputado uma perna e o segundo com problemas nas articulações de outra e por isso, capengava.
- O Chinim, pai do Theo, joga de braço dado com o Périgo (um não tinha um olho e o outro era totalmente estrábico).
-Seu pai, o Gino (para a Vani) vai ser o centro-avante (tinha sofrido um leve enfarte).
- O Paschoim e o Coelho vão jogar no ataque (já tinham mais de 70 anos).
- O Gomes vai ser o juiz, pois é o mais novo de todos (em compensação era o mais gordo de todos).
Nós rimos e comentamos...
-É bem o time dos aposentados.
 
A vida também apronta
Depois que o Alberto entregou a direção da fábrica ao filho Ronald, ia lá diariamente “supervisionar”. Passava por todas as seções, dando uma palavrinha a todos. Ele andava sempre com seu chapéu na cabeça. Numa dessas vezes, todos olhavam para ele, e sorriam de uma forma diferente. Conversavam com ar de mofa. Ele estava ficando intrigado com isso. Quando encontrou um empregado mais antigo e amigo, disse:
- O que está acontecendo que todos me olham e riem?   
Respondeu o funcionário:
- Tire o chapéu e veja!
- No chapéu estava uma calcinha vermelha com rendas pretas. O Alberto, ao passar pelo varal de casa, teve uma das calcinhas das jovens enroscada no chapéu... Justo uma que estava na moda pelas jovens.
O neto Robi, quando soube desta, disse:
- É, o vô era chegadinho em aprontar, dessa vez, ele é que levou!
 
O adeus
 Alberto faleceu em 2 de novembro de 1979, aos 69 anos de idade.
Muitas histórias se perderam.
As que conseguimos juntar mostram todo o espírito alegre, jovial, de um homem que na sua passagem por esta terra, deixou um rastro de força e alegria.
Quando ele começou a adoecer, perdeu a vontade de viver.
Foi quando eu disse:
- É chegada a hora de partir!
A vida só tem prazer quando sabemos ultrapassar as barreiras do dia a dia. Elas são muitas.
Foi com a força que meus pais souberam me incutir, que venho ultrapassando todos os obstáculos que a vida me apresenta.
 
(Outras histórias poderão aparecer, pois sempre que o nome do Alberto é citado, alguém lembra de um novo, ou velho causo).