19 Apr 2024

Publicado em DIVANIR BELLINGHAUSEN
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Neste mês de julho, as recordações de minha mãe Odette, sempre marcam mais minha vida. Ela nasceu em Santos, em 30 de julho de 1915. Filha de Assumpção e João Domingues Tavares, vieram morar em São Bernardo em 1929. Em 1936 casou-se com meu pai, Alberto Eduardo Bellinghausen, que com seu irmão Carlos Theodoro tinham começado a fabricar móveis: ”Indústria de Moveis Irmãos Bellinghausen”. Ela já dava aulas de piano e pintura, ajudando no orçamento da casa.
Quando completou 80 anos, a família comemorou seu aniversário, com uma reu-nião em sua casa, rodeada de um grande número de parentes e amigos.
Logo depois em 14 de outubro de 1995, ela veio a falecer.
Durante muitos anos ela teve aqui na Folha uma coluna intitulada “Arte e outras coisas”. Aos 80 anos ela parou de escrever. Até parece que ela antevia seu fim próximo. Apesar de já estar em uma cadeira de rodas, ainda deu sua última audição no Teatro Cacilda Becker, sendo carregada até o palco para se acomodar no piano. Nessa cadeira foi à frente dos manifestantes que lutavam para a conservação da mata dos terrenos do Matarazzo.
Em um quarto usado como escritório, tinha em frente a TV, a máquina de escrever, uma adaptação de cavalete sobre a mesa para pintar seus quadros e a bandeja com os cálices e o vinho canônico, pois cada visita que chegava tinha que brindar a vida com um gole do vinho. Quantos amigos ao sair, levavam um quadro, geralmente retratando flores, como uma recordação dela. É interessante que encontro ainda hoje pessoas que me dizem ter essa lembrança dela.
Toda sua vida ela lutou a favor dos direitos humanos, contra a impunidade dos políticos (o que já havia) e ajudando as pessoas mais humildes a conquistarem um meio melhor de vida.
Amante de livros, só sossegou quando fundou e viu instalada a “Biblioteca Monteiro Lobato”. Fez campanhas para outras bibliotecas nos bairros da cidade. Durante 35 anos presidiu a Associação Beneficente Bartira, atendendo semanalmente centenas de pessoas carentes.
Tocava piano, harmônica e arranhava um violino e outros instrumento. Lecionou música quase até o fim de sua caminhada.
Quando faleceu, assim como meu pai, ela foi velada na casa que todos tanto amamos. Com os filhos e amigos ao seu redor.
As conversas eram sobre vida. Recordações dos momentos felizes que todos haviam compartilhado com ela. As palavras de despedida foram ditas pelo saudoso amigo Walter Miranda, que contou que foi ali, naquela sala que ele começou o namoro com a Heleninha Tondi, que...linda, com seus olhos azuis, cantava acompanhada ao piano por minha mãe Odette.
A casa foi demolida, mas quantas pessoas nos dizem que ao passarem pela esquina da rua Dr. Flaquer com a rua João Pessoa, ainda “vêem” a casa no local que hoje é um estacionamento.
Apesar da ausência, eu como minhas irmãs, vivemos com nossa mãe em nossos pensamentos, pois só temos boas recordações daquela que nos deu a vida.
Acreditamos que seu espírito, tão iluminado que era, com certeza está em um mundo melhor do que este em que ainda caminhamos.
Um abraço,
Didi

Relembrando novamente uma de suas poesias, esta escrita em 1977, e tão atual...
 
BOM DIA, ALEGRIA!
Foi sem querer que eu disse essas palavras/ Ao dia luminoso e ensolarado que surgia!
Um céu azul com nuvens caprichosas, / O riso das crianças,
O chilrear das aves/ As papoulas entreabertas,
Salpicadas pelo orvalho (o seu banho de chuveiro)
As abelhas irreverentes/ A sugar néctar das rosas
(Elas não sabem que as rosas são rainhas...)
Borboletas aos pares em seu doido bailado matutino,
E os sons da “Pastoral ”vibrando pelo ar...(Beethoven amava a natureza)
Deslumbrada com tanta beleza e harmonia.
Pensei: Oh DEUS! Que mundo esplendoroso/ Tu nos destes! Como é bom viver!
E o dia foi passando... /E a miséria humana aparecendo...
Mulheres famintas mendigando, /Com pencas de filhos e olhos tristes e fundos...
Os velhos sem amparo e carinho, /Os homens sem emprego, maltrapilhos,
Pedindo o pão amargo das esmolas...
Pego o jornal... Crimes e roubos, /Os mais cruéis e desumanos:
Sequestros, desastres, assaltos. /Guerra entre irmãos na Irlanda, Irmãos em Cristo!
Guerra na Arábia e Israel... (Terra de Cristo!)
Guerras por toda à parte! Pela Democracia!
(O tal governo do Povo, para o Povo, pelo Povo...)
Tão deturpado pelo próprio Povo!
Poluição na terra, no ar, no mar.../ O homem destruindo a natureza!
O Bicho-Homem devorando toda a fauna! / (mas depois os “vermes o devoram...)
Queimando as florestas puras, verdejantes. /E em lugar erguendo monstros
De cimento armado, ou fábricas de chaminés/ Vomitando gazes venenosos...
Horrorizada eu pergunto:-/ Meus Deus! Que mundo é este?
Teria sido aqui o Paraíso?
A meia noite vou dormir
E sem querer murmuro:
-Boa noite, TRISTEZA...
Odette Tavares Bellinghausen

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